22 outubro 2009

AULA 8 Produção de crônica

Produção de crônica

Para se inspirar, leia a crônica abaixo, de Carlos Heitor Cony:

Tempos modernos

RIO DE JANEIRO - No meio do trânsito, o motorista diminuiu a marcha do carro, que ficou reduzido à velocidade de um pedestre. Estranhei a mudança, ele me apontou um esquisito negócio pendurado no poste mais próximo e informou: "É o "Big Brother'".

A expressão pegou graças ao famoso romance de George Orwell ("1984"), que virou série em TVs de todo o mundo, representando a perda de privacidade dos cidadãos que ficam dispostos e expostos ao olho implacável de uma câmera ligada ao estado-maior ou ao Grande Irmão que patrulha todas as ações da sociedade.

A primeira referência a esse tipo de poder universal não é de George Orwell nem de seu livro, publicado em 1949. Antes dele, em 1935, Charles Chaplin, em "Tempos Modernos", já mostrava a potencialidade da tecnologia na guarda dos valores da classe dominante sobre o resto da manada.

O operário Carlitos, estressado na esteira de montagem de uma fábrica monstruosa, onde aperta parafusos alucinadamente, pede ao capataz de seu setor a licença para ir ao banheiro. Mal entra ali, numa imensa tela que ocupa toda a parede, aparece em "close" o dono da fábrica, de cara amarrada, que o recrimina com aspereza, ordenando-lhe que retorne imediatamente ao trabalho: a produção não pode parar.

O filme de Chaplin continua sendo a crítica mais contundente aos tempos modernos, mas nada tem de reacionário, pelo contrário: em alguns países, foi proibido por ser propaganda comunista.

Embora nunca tenha confessado, esta cena foi o ponto de partida para Orwell criar o Big Brother, cuja amplitude é maior, universal. Na Idade Média, quando a tecnologia da época era bem mais primitiva, os anacoretas e ascetas colocavam em suas tendas ou celas um cartaz com o aviso: "Deus me vê!".

Dá mais ou menos no mesmo.

CONY, Carlos Heitor. Tempos modernos. Folha de S.Paulo, 25 maio 2008.

Inspirando-se nos fatos abordados no texto, escreva uma crônica.

Siga as instruções:

a) Pense no leitor e no objetivo que você tem em vista. Você quer entreter, divertir o leitor, sensibilizá-lo ou fazer com que ele reflita?

b) Planeje o modo de construir a narrativa de sua crônica. Você pode escrever uma história que revele sua opinião pessoal do acontecimento ou uma história que mostre o ponto de vista de uma das pessoas envolvidas no episódio (1ª ou 3ª pessoa).

c) Aborde o fato ou a situação escolhida procurando ir além do que aconteceu, narrando com sensibilidade ou, se quiser, com humor. Como sua crônica deverá ser narrativa, lembre-se de mencionar o lugar onde aconteceu o fato e o tempo. PROCURE CONTAR O FATO DE UMA FORMA QUE ENVOLVA O LEITOR, DESPERTANDO NELE O INTERESSE PELA NARRAÇÃO E A VONTADE DE LER O TEXTO ATÉ O FINAL. Se possível, guarde uma surpresa para o fim, de modo a fazer o leitor refletir, emocionar-se ou achar graça.

Escreva de forma simples e direta, procurando proximidade com o leitor, e empregue em seu texto a variedade padrão informal ou outra, de acordo com as personagens envolvidas.

d) Faça um rascunho e, antes de passar a limpo, realize uma revisão cuidadosa. Refaça o texto quantas vezes forem necessárias. Vamos postá-lo no blog?


CEREJA, W.R.; COCHAR, T.M. Português: linguagens 3. 6.ed. São Paulo: Atual, 2008. p. 83-84. (Adaptado)

08 outubro 2009

AULA 7 Narrações

Narrações: o conto e a crônica

O que é conto? O que é crônica? Você sabe diferenciar? Você costuma ler esses gêneros textuais?

Grandes nomes da literatura se dedicam à escrita de contos, sem que esse gênero seja considerado 'menor' do que o romance ou a novela. Clarice Lispector, Machado de Assis, por exemplo, foram grandes contistas brasileiros. O conto se caracteriza por ser uma narrativa mais curta, que geralmente envolve um só conflito central. O romance, por ser um texto de maior fôlego, permite uma trama maior de conflitos.

A crônica também é um texto curto. A definição mais comum (de acordo com sua origem) é a de um texto relativamente mais efêmero do que o conto, mais despretencioso, mais leve... Mas essa é só uma definição, que cai por terra ao lermos A última crônica, de Fernando Sabino, por exemplo! Machado também escreveu crônicas, relatando e cmentando fatos de sua época.

A ideia é exercitarmos um pouco a escrita de narrativas. Para isso, vamos começar desenvolvendo e finalizando uma crônica ou um conto da literatura brasileira, cujo início você vê abaixo (o título e a autoria foram retirados para fins didáticos):

a) Crônica:
 ...eram três solteirões que viviam com o pai viúvo naquela casa do interior de Minas. Um dia o mais novo, e já não tão novo, conheceu uma moça, gostou da moça, acabou se casando com a moça.


Casou e mudou.

Tempos depois, indo visitar o pai e os irmãos, não escondeu seu entusiasmo:

— Gente, vocês não sabem como mulher é bom! Serve para tanta coisa…

Não deixa de ser uma definição do casamento, como era concebido antigamente. Hoje em dia, prevalece mais a que decorre do comentário feito por aquele outro, depois que se casou:

— Então quer dizer que casamento é isso? Ela lava e eu enxugo?

— Pois comigo agora vai ser diferente — pensava ela, ao deixar o trabalho. Em vez de ir direto para casa fazer o jantar do marido, foi ao cabeleireiro mudar o penteado.

Depois de vários meses sem cozinheira, chegara enfim o dia de não encostar a barriguinha no fogão, como ele costumava gracejar, aliás sem graça nenhuma.

Em vão ela havia tentado avisar, telefonando-lhe para o escritório, que queria jantar fora naquela noite: não está na sala, está em reunião, ainda não chegou, já saiu. Onde diabo estaria? Nenhuma ponta de ciúme chegou a se manifestar na sua irritação por não encontrá-lo: parece até que está fugindo de mim, pensou apenas, indo finalmente para casa.

— Eu hoje quero jantar fora — foi declarando, categórica, quando ele lhe abriu a porta.

— Onde você andou? — perguntou ele, dando-lhe passagem.

— Fui ao cabeleireiro. E você? Tentei te avisar o dia todo.

— Me avisar o quê?

— Que eu queria jantar fora.

— Vim mais cedo para casa. Como não te encontrei…

— Nem podia encontrar, pois eu estava no cabeleireiro.

 b) Conto:
O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de conseqüências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, de uma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.


Morreu meu pai, sentimos muito, etc. Quando chegamos nas proximidades do Natal, eu já estava que não podia mais pra afastar aquela memória obstruente do morto, que parecia ter sistematizado pra sempre a obrigação de uma lembrança dolorosa em cada almoço, em cada gesto mínimo da família. Uma vez que eu sugerira à mamãe a idéia dela ir ver uma fita no cinema, o que resultou foram lágrimas. Onde se viu ir ao cinema, de luto pesado! A dor já estava sendo cultivada pelas aparências, e eu, que sempre gostara apenas regularmente de meu pai, mais por instinto de filho que por espontaneidade de amor, me via a ponto de aborrecer o bom do morto.

Foi decerto por isto que me nasceu, esta sim, espontaneamente, a idéia de fazer uma das minhas chamadas "loucuras". Essa fora aliás, e desde muito cedo, a minha esplêndida conquista contra o ambiente familiar. Desde cedinho, desde os tempos de ginásio, em que arranjava regularmente uma reprovação todos os anos; desde o beijo às escondidas, numa prima, aos dez anos, descoberto por Tia Velha, uma detestável de tia; e principalmente desde as lições que dei ou recebi, não sei, de uma criada de parentes: eu consegui no reformatório do lar e na vasta parentagem, a fama conciliatória de "louco". "É doido, coitado!" falavam. Meus pais falavam com certa tristeza condescendente, o resto da parentagem buscando exemplo para os filhos e provavelmente com aquele prazer dos que se convencem de alguma superioridade. Não tinham doidos entre os filhos. Pois foi o que me salvou, essa fama. Fiz tudo o que a vida me apresentou e o meu ser exigia para se realizar com integridade. E me deixaram fazer tudo, porque eu era doido, coitado. Resultou disso uma existência sem complexos, de que não posso me queixar um nada.

Era costume sempre, na família, a ceia de Natal. Ceia reles, já se imagina: ceia tipo meu pai, castanhas, figos, passas, depois da Missa do Galo. Empanturrados de amêndoas e nozes (quanto discutimos os três manos por causa dos quebra-nozes...), empanturrados de castanhas e monotonias, a gente se abraçava e ia pra cama. Foi lembrando isso que arrebentei com uma das minhas "loucuras":

– Bom, no Natal, quero comer peru.

Na próxima aula, você lê a versão completa dos textos. Por enquanto, tente imaginar como termina a história... Entregue à professora a sua versão do conto ou da crônica ao final da aula.

AULA 6 Memorial/Biografia

Biografias

Observação e análise de alguns sujeitos (reais e fictícios)

- biografia dos alunos (leitura e comentários);
- outras biografias:
- Museu da Pessoa: narração em áudio da biografia de duas pessoas: Antonio Marcos e Valdiane Soares. Comparação da forma de narrarr e motivação. Ouça outros! Comente e sugira aos colegas!
- Memória Viva: Menino de engenho: ficção e realidade ne obra de José Lins do Rego e Noel Rosa e o samba.