30 setembro 2010

Aula 5 - Descrição de pessoa ou objeto

Mais uma proposta de texto, de acordo com as orientações de Guedes, para a próxima semana.
Se quiserem, façam a descrição dos lugares que visitamos na semana passada: Museu das Minas e dos Metais e Praça da Liberdade. Bons textos hão de vir por aí..






Instituições, coisas, ambiente, objetos, assim como figuras, isto é, personagens, ou, na verdade, pessoas, são materiais de descrição. E a descrição é aquela parte do texto que a gente pula quando lê, por exemplo, um romance do século XIX [...]. A gente já percebeu que os romances mais recentes não contêm descrições, ou, pelo menos, as suas descrições não são tão longas. Há quem diga que foram a fotografia, que vale mais do que mil palavras, e o cinema, que provocaram mudanças na descrição dentro do romance e da literatura em geral.

Vejamos um exemplo de descrição de pessoa:

Carla

Carla é um tipo especial de pessoa. Sempre alegre e expansiva, freqüentemente a chamam de “alma da festa”. Tem uma capacidade muito grande de envolver as pessoas e fazer com que se sintam bem ao seu lado. Está sempre conversando sobre qualquer coisa: nunca lha falta assunto.
É uma pessoa extremamente desorganizada e nunca consegue ser pontual. Apesar disso, as pessoas não conseguem culpá-la; ela é do tipo que “vive a vida”. [...]
Ela tem a fama de ser muito namoradeira e pouco fiel. Faz amigos com muita facilidade e acaba logo por falar coisas bem íntimas a pessoas que mal conhece. [...]

         Segundo Guedes (2002), o autor do texto descritivo tem na mão uma faca com a qual corta o seu objeto de descrição e o mostra a seu leitor. Para ele, “a pobre Carla sai retalhada em pedaços bem desiguais desta descrição: nenhum plano, nenhuma direção, nenhuma idéia geral para passar ao leitor; apenas o cumprimento de uma tarefa escolar. Descrever uma pessoa – disse o professor –, e o aluno tomou de uma faca cega chamada redação escolar e saiu golpeando a torto e a direito, obtendo um resultado em linha desordenada. [...]. Se não há unidade temática, não há mais nada, nem concretude, nem questionamento, nem objetividade”.

         Para que, para quem, como, pela ordem
         A primeira conseqüência de empunhar a faca é mudar a ordem da perguntas a respeito do texto a ser escrito. A primeira delas não pode mais ser, por exemplo, como se faz a descrição de uma pessoa?  Duas outras, pelo menos, têm de vir antes: para que descrever uma pessoa? e para quem descrever uma pessoa? A primeira pergunta pelo autor; a segunda, pelo leitor; a terceira, pelo modelo. As três, nessa ordem, compõem a faca. O texto não pode resultar em uma mera lista, incapaz de produzir conhecimento a ser compartilhado com um leitor. Ao leitor sobra ficar imaginando o que ele tem com isso.

GUEDES, Paulo Coimbra. Da redação escolar ao texto: um manual de redação. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.

Visita ao Museu das Minas e do Metal - MMM







16 setembro 2010

Aula 4 - Relato de situação que provocou aprendizado

Sugestão de tema: A visita ao Museu das Minas e do Metal pode servir de tema para a produção deste texto. O próximo tema – descrição de pessoa, coisa ou lugar – também é opção para a escrita acerca da visita. Fica a seu critério!


         Para redigir esse texto, que implicará a narração de uma situação que tenha provocado um aprendizado, retomaremos algumas das coisas que já foram faladas em “Relato de uma emoção forte”:
a) Objetividade: Nunca é demais lembrar que objetividade é a condição para que uma narrativa escrita se constitua. Ela nasce de uma peculiar relação que o autor precisa aprender a manter consigo mesmo: a capacidade de constituir-se em narrador, de ver-se de fora, de selecionar um aspecto do seu jeito de ser para tornar-se inteligível para o leitor.
Lembre-se de que o leitor só se interessa por histórias que pode avaliar não apenas pelo que nela acontece mas também pelo fato de tal coisa ter acontecido exatamente com tal pessoa e não com outra; é necessário, portanto, que o texto apresente o seu narrador por meio de dados concretos para que o leitor possa avaliá-los por si mesmo.
         b) Unidade temática: Construa a unidade temática de sua narração a partir daquilo que caracterizamos como ânimos narrativos: de um lado, apresentando a seu leitor, que não está presente, uma história completa,
-    dando-lhe todas as informações necessárias a respeito do enredo, do cenário, do narrador e dos demais personagens, da época em que a ação se situa, para que ele possa acompanhar o relato;
-    mostrando-lhe o valor que o narrador atribui aos fatos que conta;
-    apresentando dados concretos para que ele possa não só avaliar a adequação dos julgamentos que o narrador faz a respeito dos fatos que narra, mas também fazer sua própria avaliação da história, em confronto com sua própria experiência.
De outro lado, lembre-se sempre de que tudo o que aconteceu só interessa contar aquilo que converge na direção do esclarecimento da questão que vai ser equacionada no texto; o resto, outros acontecimentos, fatos, conversas, etc, não vêm ao caso e não devem sequer ser mencionados porque não interessa se as questões são importantes em si. Interessa se elas são importantes para a narrativa; interessa sua contribuição para o entendimento da idéia central que a narrativa quer passar.
c) Concretude: Não passe contrabando para seu leitor, não jure, não apenas diga; mostre, porque o leitor não vai acreditar na sua palavra de narrador. O leitor só acredita naquilo que pode ver, ouvir, cheirar, apalpar, lamber. Se o texto quiser dar um depoimento pessoal, lembre-se de que isso implica uma reavaliação pessoal das idéias correntes a respeito da situação social em que a história se localiza e das instituições nela envolvidas quanto das atitudes correntes a respeito delas. O próprio sentido das palavras é avaliado pelo conhecimento que a gente tem a respeito de quem a está usando. Por isso é muito importante que, ao lado do nome que se dá à coisa, ao sentimento, ao valor que o texto quer mostrar, apareça o concreto exemplo, a descrição, a narrativa miúda, que mostrem o peculiar sentido que o texto atribui à palavra que designa. Não esqueça que as pessoas são péssimos personagens e os seres humanos, péssimos assuntos. Tratemos de nós, fulanos de tal específicos e concretos que compartilhamos com as demais pessoas e com os demais seres humanos concretos dessa natureza geral em que nos encontramos.
d) Questionamento: Ao selecionar a história que vai conter lembre-se de que numa narrativa que ficou em nossa memória tem um significado próprio que nós temos de descobrir, o que significa tentar escolher nela a questão mais profunda entre várias questões que ela nos coloca. Nesse sentido, relatar fracassos é geralmente mais instrutivo do que relatar vitórias, tanto para quem lê, quanto especialmente para quem tenta entender, ao organizar seu relato, as causas desse fracasso.
GUEDES, Paulo Coimbra. Da redação escolar ao texto: um manual de redação. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.