18 março 2010

AULA 4 - LEITURA E PRODUÇÃO DE SENTIDOS

 Texto para leitura:
Vide Bula


Há cerca de 10 anos publiquei este artigo no Jornal de Cajuru, num momento especial para o país, quando o esquema colorido havia sido desmantelado, e havia grandes expectativas quanto ao futuro político do Brasil.
Hoje aproveito para republicá-lo, como prévia para o Vide Bula II, que certamente trará novos medicamentos, para quem sabe, desta vez, curar o paciente. Uma coisa é certa: este já não está mais na UTI. Concordam?
O Brasil está doente. Êta frasezinha batida! Todo mundo está cansado de saber disso. O diabo é: qual remédio?
Muito se tem tentado com drogas tradicionais, ou novidades, porém até agora nenhuma teve o tão almejado efeito de curar este pobre enfermo.
Há bem pouco tempo foi tentada uma droga novíssima, quase não testada, mas que prometia sucesso total, a "Collorcaína", que, infelizmente, na prática de nada serviu, seus efeitos colaterais extremamente deletérios (como a liberação da "Pecelidona") quase acaba com o doente.
Porém, para o ano que vem, novos medicamentos poderão ser usados. Enquanto isso não acontece, o doente consegue se manter com doses de "Itamarina" que é uma espécie de emplastro que, se não cura, também não mata.
Mas, voltando ao ano que vem, se é que podemos voltar ao futuro, vamos estudar os possíveis medicamentos que teremos à disposição do moribundo.
A primeira droga a ser discutida já é uma antiga que estava em desuso e voltou com nova embalagem e novas indicações, podendo ser eficaz no momento.
Trata-se da "Paumalufina'', extraída do pau-brasil com a propriedade de promover perda das gorduras, principalmente estatais, acentuando a livre iniciativa. Tem como efeito colateral a crise aguda de autoritarismo e também de perdularismo, sendo contra-indicada para as democracias.
A segunda droga, também já testada, é derivada da "Pemedebona", a “Orestequercina", que atua em praticamente todos os órgãos, que passam a funcionar somente às custas da "Desoxidopropinainterferase", que promove desempenho muito mais fisiológico.
Esta droga tem como efeito colateral uma grande depleção das reservas, depleção esfa que pode ser fatal ao organismo.
Mais recentemente foi criada a "L.A. Fleurizina". Derivada da "Orestequercina", de maneira muito semelhante à mesma, sendo, entretanto, muitomais contundente e agressiva. É formalmente contra-indicada paraCarandirus e professores.
A terceira droga do nosso tratado é uma ainda não testada, mas já com fama de eficiência. Trata-se do "Cloridrato de Lulalá", derivada da "Estrelapetina", e, como efeito, promete revitalizar as células periféricas, tornando-as tão importantes quanto as do SNC (Sistema Nervoso Central).
É importante lembrar que a mesma pode causar imobilismo com liberação de seitas e dissidências. Tais efeitos colaterais podem ser evitados com injeção na veia de "antisectarina" e cápsulas de "Bonsensol".
Ainda é bom lembrar que o uso de tal substância provoca uma cor avermelhada em todos os órgãos.
A quarta droga que discutiremos é a "Tucanina Cacicóide", na verdade, um complexo de inúmeros componentes, como a "F.H.Cardozina", a "Zesserrinitrina", a "Mariocovase" e muitas outras mais que são muito eficientes "In Vitro", porém sem comprovação de efeito "In Vivo".
Seu maior efeito colateral é a interação de seus componentes que competem entre si, causando uma síndrome chamada "encimamurismo", síndrome esta extremamente deletéria e que pode invibializar o uso de tal medicamento.
Existem ainda drogas menores como a "Brizolonina" que, quando aplicada, provoca intensa verborragia e manias perseguitórias.
Há ainda a A.C. Malvadezina, uma droga extremamente tóxica que causa náuseas até em quem aplica.
Terminando nosso estudo, esperamos que, desta vez, os médicos saibam o remédio certo para salvar o doente.
Autor: Luiz Fernando Elias é cardiologista e, nas horas vagas, cronista. In: KOCH; ELIAS, 2006, p. 25-6.
 
Fatores de compreensão da leitura:
Autor/leitor: “conhecimento de elementos lingüísticos, esquemas cognitivos, bagagem cultural, circunstâncias em que o texto foi produzido” podem alterar a compreensão do texto.
Texto: fatores materiais, linguísticos ou de conteúdo alteram a legibilidade do texto. Aspectos materiais: tamanho das letras, clareza, cor do papel, fonte... Fatores linguísticos: estruturas sintáticas complexas, ausência ou uso inadequado de sinais de pontuação... Conteúdo: expressões desconhecidas, textos técnicos...


Objetivos de leitura:
A interação entre o conteúdo do texto e o leitor é regulada pela intenção com que lemos o texto: é diferente ler bula de remédio, romance, tese, outdoor...

Gênero textual: é através do gênero que atribuímos sentido e compreendemos o texto.

Pluralidade de leituras e sentidos
“Considerar o leitor e seus conhecimentos e que esses conhecimentos são diferentes de um leitor para outro implica aceitar uma pluralidade de leituras e sentidos em relação a um mesmo texto.” (KOCH; ELIAS, 2006, p. 21)

O leitor deve “ativar” seu conhecimento e perceber as sinalizações do texto para produzir sentido.

Escrita e leitura: contexto de produção e contexto de uso:
Circunstâncias de leitura diferentes de circunstâncias de produção


Texto e leitura:
O autor, então, dialoga com o texto, fazendo emergir seus esquemas, seu conhecimento de mundo, seu modelo cognitivo. Esse esquema pode ser confirmado ou não no decorrer da leitura.


Conclusão
“Se como vimos, a leitura é uma atividade de construção de sentido que pressupõe a interação autor-texto-leitor, é preciso considerar que, nessa atividade, além das pistas e sinalizações que o texto oferece, entram em jogo os conhecimentos do leitor.” (KOCH; ELIAS, 2006, p. 37)

Um comentário:

  1. Helena, esse texto foi excelente. A criatividade do escritor é fora de série, brinca com as palavras, tratando-se de um assunto sério que mexe com as pessoas, principalmente àquelas envolvidas neste mundo político e acredito que até aqueles que ouviram falar por cima de tais figuras carimbadas citadas ali, ficou por dentro do escrito. Excelente escolha.

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