25 março 2010

AULA 5 - LEITURA DE POEMAS

O ferrageiro de Carmona


Um ferrageiro de Carmona,
que me informava de um balcão:
"Aquilo? É de ferro fundido,
foi a forma que fez, não a mão.

Só trabalho em ferro forjado
que é quando se trabalha ferro
então, corpo a corpo com ele,
domo-o, dobro-o, até o onde quero.

O ferro fundido é sem luta
é só derramá-lo na forma.
Não há nele a queda de braço
e o cara a cara de uma forja.

Existe a grande diferença
do ferro forjado ao fundido:
é uma distância tão enorme
que não pode medir-se a gritos.

Conhece a Giralda, em Sevilha?
De certo subiu lá em cima.
Reparou nas flores de ferro
dos quatro jarros das esquinas?

Pois aquilo é ferro forjado.
Flores criadas numa outra língua.
Nada têm das flores de forma,
moldadas pelas das campinas.

Dou-lhe aqui humilde receita,
Ao senhor que dizem ser poeta:
O ferro não deve fundir-se
nem deve a voz ter diarréia.

Forrjar: domar o ferro à força,
Não até uma flor já sabida,
Mas ao que pode até ser flor
Se flor parece a quem o diga.”

MELO, João Cabral de. Crime na calle Relator. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1087. p.31-32.

Questões
1. Quem fala no poema? A quem ele se dirige? Que marcas linguísticas permitem afirmar isso?

2. De que trata o poema, num primeiro plano de leitura? Indique palavras que comprovem essa leitura.
3. A figura ajudou a estabelecer sentido para o poema? Se sim, de que forma?
4. Que termos não se encaixam nessa leitura (desencadeadores) e podem levar a um segundo plano de leitura?
5. Como se caracterizam a imitação e a criação em CADA plano de leitura?

Paisagens com cupim


No canavial tudo se gasta
pelo miolo, não pela casca.
Nada ali se gasta de fora.
qual coisa que em coisa se choca.

Tudo se gasta mas de dentro:
o cupim entra os poros, lento,
e por mil túneis, mil canais,
as coisas desfia e desfaz.

Por fora o manchado reboco
vai-se afrouxando, mais poroso,
enquanto desfaz-se, intestina,
o que era parede, em farinha.

E se não se gasta com choques,
mas de dentro, tampouco explode.
Tudo ali sofre a morte mansa
Do que não quebra, se desmancha.

MELO NETO, João Cabral de. Poesias completas (1940-1965). 3.ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1979. p.149.

Questões
1. Que palavras indicam oposição semântica: exterioridade X interioridade?
2. Que palavras indicam a oposição sentido X ruído?
3. Qual o tema do poema?
4. Quais as palavras desencadeadoras de leitura em outro plano?
5. Levando em conta a possibilidade de várias leituras, a corrosão (desgaste) pode ser lida no plano físico, histórico e humano. Explique.

Atividade baseada em: PLATÃO & FIORIN. Para entender o texto: leitura e redação. 16.ed. São Paulo: Ática, 2003. p.104-107.

3 comentários:

  1. olá vc tem as respostas deste questioario, sobre Paisagens com cupim?

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  2. ola gostaria
    de ver as respostas sobre paisagens com cupim.
    urgente

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  3. Bom dia! Gostaria de depreender a atividade. Poderiam me enviar as respostas do questionário?

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