12 agosto 2010

AULA 1 - Preparando o texto de Apresentação Pessoal

Dada a largada, vamos começar a escrita de nossos textos. Eles serão pautados por algumas características (qualidades discursivas), que também serão levadas em conta na hora em que você comentar o texto do colega.
Lembre-se de que:
- seu texto será escrito para o grupo, e analisado por ele;
- seu texto será reescrito, em função das críticas recebidas.
Estamos nos baseando no livro Da redação escolar ao texto, de Paulo Guedes, para montar o roteiro de escrita de textos.
No mais, bom trabalho! Que a dinâmica seja produtiva!
Boas vindas aos calouros do CALP!

helena


As qualidades discursivas
As qualidades discursivas foram postuladas para servirem de instrumentos de denúncia da falsificação perpetrada pela redação escolar, pois por sua deliberada busca se encaminha a desconstrução das qualidades formais exteriores que a caracterizam. Unidade temática, objetividade, concretude e questionamento encaminham o exercício do discurso entendido como colocação em funcionamento de recursos expressivos de uma língua com uma certa finalidade
Texto de apresentação pessoal
No texto de apresentação pessoal, que você irá apresentar na próxima semana, leve em conta:
Para não iniciar com um chavão do tipo conhece-te a ti mesmo, para então partir para o conhecimento do mundo lá fora, podemos retomar a ideia inicial de que todos os leitores querem ver o autor através do texto que ele escreve e de que o autor quer ver a si mesmo engrandecido pelos olhos desse leitor. Juntemos a ideia – já quase um chavão também – de que passamos a vida toda aprendendo a respeito de tudo, inclusive de nós mesmos. Por fim, acrescentemos uma outra unanimidade: conhecer-se é muito bom e útil.
Daí que apresentar-se por escrito é uma atividade que resgata, entre outras coisas, uma função para aquele pronome se colado ao verbo. Apresentar-se para um leitor é também apresentar-se para si mesmo, aprofundar o conhecimento do que se sabe e do que a gente se julga ser, até porque o motivo que nos leva a passar a vida inteira aprendendo a nosso respeito é o fato de que sempre podemos ser mais do que somos, porque somos uma pessoa diferente para cada uma das pessoas com quem nos relacionamos. Ou seja: somos tão infinitos quanto o universo, o mundo lá fora, e tanto maiores nos descobriremos quanto mais soubermos de nós mesmos.
Por outro lado, está mais do que claro para nós que somos como as outras pessoas são. Frequentemente até queremos ser como as outras pessoas são, pertencer a um grupo, agir como agem os membros desse grupo, falar como eles falam. Às vezes até queremos ser iguais a uma determinada pessoa, mas, mesmo nessa circunstância, ao mesmo tempo, sabemo-nos diferentes e, mais do que isso, queremo-nos diferentes. E levamos nossa vida transmitindo mensagens que tanto dizem vê bem como nós somos parecidos, como temos coisas em comum, como dizem, ao mesmo tempo, eu não sou como vocês, que eu não me presto pra isso.
Um texto de apresentação pessoal tem a utilidade, do ponto de vista de quem o escreve, de fixar a auto-imagem momentânea, que pode funcionar como ponto de partida de um maior autoconhecimento. A reação dos leitores geralmente deflagra esse processo transformando em dúvidas as certezas do autor sobre si mesmo. Podem, é claro, confirmar certezas, ou transformar dúvidas em certezas, e isto tudo é muito simples de entender, pois está na experiência de cada um de nós.
A questão é a seguinte: como pôr isso no papel? Como escrever um texto de apresentação pessoal que me apresente a mim mesmo, isto é, que me ensine algo a meu respeito e que permita a meus leitores verem algo deles mesmos – uma diferença ou uma semelhança – em mim? Não há fórmulas, é claro (e isso é um outro chavão), mas há alguns princípios que podem ser depreendidos do que já foi dito a respeito da questão.
Unidade temática: Trate apenas de um aspecto, seja ele uma dificuldade, uma paixão, uma birra, um desejo, um hábito, uma particularidade, um trajeto, uma característica identificadora, um único seja lá o que for, de preferência o mais importante do personagem-narrador que você vai compor para se representar diante dos seus leitores ou do cotidiano que você instituiu para esse personagem..
Concretude: Fale de coisas concretas, de coisas específicas, de particularidades, de diferenças, fale daquilo que torna seu personagem um ser único, mas mostre, por meio de fatos, ações, exemplos, pequenos relatos de situações ocorridas, como ele reage, como ele se relaciona com o mundo lá fora. Dê aos seus leitores condições de uma concreta identificação e de um concreto confronto com ele ou com sua atividade cotidiana.
Questionamento: Trate de um problema, de um conflito, equacione-o, encaminhe-o, proponha uma solução, se tiver uma, mas uma solução útil, ao alcance da mão, executável agora mesmo. De nada adianta dizer que todos os homens deveriam dar-se as mãos para que o mundo fosse melhor. Propostas desse tipo já se revelaram inviáveis milhares de vezes. Se não tiver uma, organize uma maneira original de encaminhar uma reflexão interessante a respeito dela.
Só vai ser útil pro leitor aquilo que for útil pro autor. Lembre-se que nossos conflitos começam pela peculiar relação que temos com a natureza deste planeta, uma relação de trabalho, de transformação... Passam, a seguir, nossos conflitos pela relação forte que temos com nossos semelhantes, a partir de nossas afinidades e contradições de interesses. Costumam chegar até nossas questões conosco mesmos, divergências entre corpo e alma, entre amor e ódio, vocação e necessidade, vontade e medo, etc.
Objetividade: Trate-se como um de seus personagens, como uma criação sua: procure ver-se de fora. Lembre-se: apresentar-se é também descobrir-se. Não fale apenas do que está aparente ou já comprovado; lance hipóteses, projeções, previsões a respeito desse personagem; faça planos para ele. Afinal, ele não nasceu pronto e pode ser projetado, transformado naquilo que você quer que ele seja. Você, certamente, se acha capaz de sonhar, planejar, projetar e executar seu caminho. Daí apresente a seu leitor todos os dados necessários para que ele componha um quadro completo desse personagem e possa estabelecer um diálogo com ele. Você verá que seu primeiro e entusiasmado leitor será você mesmo, travando com seu texto um diálogo de reconhecimento e descoberta. Isso também vale para o seu cotidiano: o que ele revela para você mesmo e para seus leitores por trás da aparência da rotina?

Retirado/adaptado de: GUEDES, Paulo Coimbra. Da redação escolar ao texto: um manual de redação. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.

Um comentário:

  1. Essa proposta de produção de texto foi realmente desafiadora, mas serviu-me bastante. Foi muito bom que, ao terminar de escrvê-lo, eu mesmo podia me reconhecer no texto. Espero me sair bem no próximo desafio.

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