30 setembro 2009

AULA 1 Você está animado a escrever?

Palavras iniciais

Você está animado a escrever?
O semestre será dedicado à (re)escrita de textos dos seguintes gêneros: crônica, artigo de opinião e memorial. Será um momento oportuno para você pensar sobre a sua ação de escrita e as posições assumidas nessa ação. Como e por que você escreve? De que lugar social você fala em cada situação de interlocução? Como você institui o “outro” a quem você se dirige? Essas e outras questões nortearão o nosso estudo neste semestre e as produções textuais realizadas no CALP.

Além disso, trabalharemos também alguns aspectos importantes na interpretação de textos, relativos à assunção da posição social do sujeito que fala/escreve.

Desejo a você bons estudos! Sucesso!

helena contaldo



Leituras de aquecimento
O trecho seguinte integra uma crônica de uma das escritoras brasileiras de maior prestígio na literatura nacional: Clarice Lispector. Se você já leu alguma de suas obras, sabe que sua escrita é inovadora, densa e, ao mesmo tempo, carregada de sentidos. Sentidos que não estão à tona em seus escritos, mas emergem quando mergulhamos no texto. Como a própria autora diz, “Quando eu procuro demais um ´sentido` – é aí que não o encontro”. Uma chave de leitura para a obra de Clarice é procurar sentidos.

Quando não estou escrevendo, eu simplesmente não sei como se escreve. E se não soasse infantil e falsa a pergunta das mais sinceras, eu escolheria um amigo escritor e lhe perguntaria: como é que se escreve?


Por que, realmente, como é que se escreve? que é que se diz? e como dizer? e como é que se começa? E que é que se faz com o papel em branco nos defrontando tranqüilo?


Sei que a resposta, por mais que intrigue, é a única: escrevendo. Sou a pessoa que mais se surpreende de escrever. E ainda não me habituei a que me chamem de escritora. Porque, fora das horas em que escrevo, não sei absolutamente escrever.

O que nos interessa propriamente nesse trecho é a ação de escrever. Essa é uma atividade sempre orientada para o outro, que visa à inter-ação.

Borelli (1981, p.79) relembra mais algumas palavras de Clarice sobre a ação de escrever:

Para me divertir eu poderia inventar muitos fatos e criar histórias, inventar é fácil e não me falta a capacidade. Mas não quero usar esse dom que eu desprezo, pois ´sentir` é mais inalcançável e ao mesmo tempo mais arriscado. Sentindo-se pode-se cair num abismo mortal.


O que procuro? Procuro o deslumbramento. O deslumbramento que eu só conseguirei através da abstração total de mim.


Eu não quero a idéia e sim o nervo do sonho que resulta na única realidade onde posso encontrar uma verdade. É como se eu tivesse inventado a vida – e – fiat lux. Mas o deslumbramento que eu tenho dura o espaço instantâneo de uma visão e eis-me de novo no escuro.

Desejo que você também reflita sobre a sua ação de escrita, na escrita e pela escrita. Guardadas as devidas proporções (a não ser que você também “cometa alguns poemas” de vez em quando), a ação de escrever textos literários e textos não-literários assemelha-se em alguns pontos: em ambas, o escritor encontra-se frente a frente com uma folha em branco (ou, mais frequentemente, com uma tela – de computador – em branco) e deve/precisa, a partir daquele momento, selecionar palavras, estruturar frases, organizar o processamento textual – para que tudo saia na ordem desejada – calcular possíveis efeitos de sentidos em função do fluxo informacional, imaginar o seu interlocutor, o que ele sabe e quais seriam seus objetivos... Enfim, são muitos os processos envolvidos nessa ação.

Parafraseando Clarice, diria que alternamos, no momento da escrita, deslumbramentos e sessões no escuro: quando achamos a palavra certa, quando escolhemos a construção que julgamos mais adequada... esse é o deslumbramento. Mas, ao contrário, quando passamos o tempo procurando a melhor expressão, querendo “dizer”, mas sem encontrar a palavra adequada, estamos no escuro, não é verdade?

Vídeo
Assistiremos agora a um trecho da entrevista realizada com Clarice em 1977, pouco tempo antes de sua morte. Então, tomemos esse exemplo para discutir um pouco mais sobre a escrita na vida de escritores e leitores. Vamos pensar um pouquinho?

Aquecimento
Agora, reflita você também sobre essa ação. Essa reflexão pode se transformar em um texto em que você aponte dificuldades, narre momentos de facilidade ou episódios trágicos em que se viu envolvido(a), dependendo do que tinha a escrever. Enfim, o espaço é seu: aproveite-o para sistematizar dificuldades e pensar em como resolvê-las.

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